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Selma Pereira


Meu Primeiro Atendimento Psicológico
Meu Primeiro Atendimento Psicológico

Estava eu tranquilamente na minha casa quando me lembrei de várias pessoas que dizem que eu sou louca.
Resolvi então marcar uma consulta a um psicólogo
Procurei no catálogo e todos os nomes que encontrei eram esquisitos demais para um ser psicólogo.
Olhei em vários: lista telefônica e de alguns planos de saúde que distriobuem os catalogozinhos para os conveniados.
Por fim encontrei um nome que eu me simpatizei: Margarida*. Dra Margarida. Me lembrei das flores do jardim da casa da avó do meu marido. Então eu gostei da Margarida.
Liguei e agendei uma consulta. Ás 16 horas de uma segunda-feira.

Após a ligação, me sentei confortavelmente no sofá de minha casa e comecei a elaborar o que diria para a psicóloga, Dra Margarida.
Ensaiei diversas vezes.
Procurei na internet o que dizer a um psicólogo. Perguntei ao meu marido o que ele acharia que eu devia dizer e ele respondeu que era o que eu quisesse.
Perguntei a minha mãe que respondeu: suas queixas>

Ok.

Eram 15 horas daquela segunda feira. Deu uma chuvadinha e imaginei que a natureza estava rindo de mim.
Queria ir a pé para ir pensando. Resolvi ir de ônibus.
Estava bastante empolgada com a situação e pela primeira vez disse boa tarde de livre e espontânea vontade.
O ônibus remexia muito, mas isso não me incomodou. O chapeu enorme da senhora sentada á minha frente me fez pensar nos filmes mexicanos, pois me pareceu um sombreiro.

Em certo local, entre uma determinada senhora comendo um salgado e tomando coca-cola na latinha, estava cheia de apetrechos no pescoço, óculos escuros, com uma bolsa lindíssima, um sapato maravilhoso e tinha uma aparência excêntrica.
Ela sentou bem atrás de mim.
Mastigava com a boca cheia e fazia todo tipo possível de ruídos.
Arrotos, suspiros, bocejos.
Dava pequenos gritos e até seu piscar de olhos fazia barulho.

Eu comecei a contar até dez. Não funcionou.
Ela então terminou o seu lanche e jogou a latinha pela janela do ônibus. Jogou também o guardanapo.

Aquilo me supitou. Comecei a tremer. Não sei que tipo de sentimento era.
Contei até vinte, mas também não funcionou.
Virei para trás educadamente e disse:
- Sabia que esse seu gesto pode culminar num acidente? Lembro-me que acentuei a palavra culminar.
_  Uma simples latinha? - ela respondeu e acrescentou: _ Me poupe.

Virei para frente com raiva e resolvi prestar atenção nas coisas boas e ignorar a tal senhora.

Quando pensei que tava tudo bem ela começou a mascar um chiclete e tinha jogado o papelzinho pela janela do ônibus. Mascava de boca aberta e fazia todo tipo de ruído.
Ruídos terríveis.

Então me virei educadamente e disse:
_ Por gentileza a senhora poderia mascar mais baixo, pois está me incomodando. Por favor, mastigue de boca fechada.
Esta senhora respondeu calmamente: eu estou pagando a passagem deste maldito ônibus, e você que está me incomodando. Queira por favor se sentar à duas poltronas no mínimo longe de mim? Você provavelmente é uma mal amada que quer consertar o mundo e culpa tudo e todos.

Aí eu virei uma fera. Me levantei, xinguei. Disse que ela tinha pouca educação e disse ainda: _ Eu também estou pagando a droga desse ônibus. Tenho o direito de não ser incomodada. Mas faço questão de descer aqui e terminar de chegar a pé, para me poupar da sua detestável companhia. Acentuei mais ainda a detestável companhia.

Desci mesmo do ônibus. Caminhei até o consultório da Dra Margarida; meus pés doeram de tanto andar.
Eu queria entrar exatamente às 16 horas, pois sei que pontualidade é um ponto positivo.
Acabei chegando às 16:03 ainda havia tempo de mostrar que era pontual.

Entrei. Fui muito bem recepcionada pela secretária da clínica.
Ela me levou até um quartinho, bem arrumadinho com um divã, uma poltrona, um sofá.

Esperei cinco minutos aundo entrou a psicóloga Dra Margarida, era ninguem mais ninguém menos que a senhora dos ruídos terríveis. Que estava comigo no ônibus...

Ela me olhou e eu olhei para ela. Como dois cães raivosos prestes a se atracarem numa luta sangrenta.

Eu não tinha domínio sobre mim,  minnhas pernas se levantaram sozinhas, meus braços por si só pegaram minha bolsa. Minhas pernas caminharam até a porta e meus olhos quis olhar para trás. A Dra Margarida ainda estava de pé. Olhei para  ela e ela olhou para mim. Não falamos nada. O momento não era digno de palavras.

Quando soltei ao tempo e ao espaço vi que eu estava na minha casa chorando.
Descobri por mim mesma que não gosto mais de margaridas, elas devem ornamentar somente ocasiões fúnebres.
Também não gosto de õnibus, sempre acho que algo desagradável vai acontecer dentro deles.
Nem de coca-cola e latinhas, fazem mal à saúde.
Nem de salgados e guardanapos, me lembra colesterol e pouca higiene
Não gosto de chiclete, causam um mal terrível ao estômago
Não olho mais bolsas nem sapatos alheios, trazem mau agouro
Criei sintomas.
Até traumas
Acho que preciso de um psicólogo.