Me lembro com saudades de um colega que tive na minha tenra idade. Henrique, o Grande.
Sentava à minha frente e fazia seu trabalho como ninguém. Silencioso.
Um dia percebi algo estranho nele: estava olhando muito pro lixo.
Olhava tanto que pensei:
"provavelmente ele jogou fora um documento muito importante."
Mas só pensei, não disse nada, aliás o lixo da pessoa é propriedade particular dele.
Ficamos mais um tempo. Nós dois em silencio. Henrique sorrindo para o lixo.
De repente ele se levantou, fez uma mesura e pegou algo no lixo.
Não era um papel, não era material de escritório, não era documento. O que ele pegou no lixo, meu Deus, era um saquinho de pimentinha.
Comemos juntos. Henrique, o Grande, é generoso.
Depois discutimos o assunto. Ele catou entre os detritos e eu comi do lixo.
Nunca nos imaginávamos nessa situação.