Era noite. E eu não queria ir embora da casa do meu pai. Uma casa cheia de conversas, brincadeiras, irmãos e irmãs, mãe, gatos, cachorros e tartaruga. De vez em quando, alguem gritava "Chato" ou "Chata". E minha mãe; 'Parem com isso!"
Alguem tocou na história de ir embora. eu não queria.
Então eu disse:
_ O caminho é perigoso. É escuro.
_ Eu te empresto minha lanterna - disse meu pai. _ Mas eu não queria emprestá-la a ninguém!
Caramba! tentei outra:
_ Pai, o caminho é tão perigoso, se eu encontrar com algum bandido. Preciso de algo pra bater, caso eu encontre algum.
Meu pai, boníssimo Sr. José Nunes, deu uma voltinha e me trouxe um pedaço de madeira quadrada, leve, com mais ou menos 60 centímetros:
_ Isso aqui vai servir. Leve esse.

Não teve mesmo jeito. Pus o pé na estrada. Não me importo, nem gosto desse barulho, cansei de suportar gente chata! Não estava escuro e eu não tinha medo de bandido nenhum. Era um local por onde transitei desde que nasci. Conhecia todo mundo. E todos davam conta da minha vida. Ninguem cairia nessa de escuro e de bandido.
Fui embora desapontada.

Num momento era só eu e meu Desapontamento Contido, em outro momento era uma picape cantando pneus ao meu lado. Caramba! Era meu pai.
Nem posso chamar aquilo de picape. Era um tanque de guerra verde musgo.
Subi na carroceria e abaixei meu rosto no nível do rosto do motorista que vociferava:
_ Porque você prefere arriscar?
_ Porque eu não queria ir embora. Respondi.
_ Você não dá o braço a torcer, prefere arriscar do que entrar num acordo. Disse-me.

Qual é a desse Velho? Arriscar o quê? Eu sou mais bandida do que qualquer bandido que ande nessa área. E nem entendo porque eu não queria ir embora daquele lugar barulhento embora aconhegante.  Seu José Nunes, brilhante professor, ótimo pai e amigo, tinha certo prazer em falar Acordo!

Estávamos chegando em minha casa. Não sei de onde veio, qual foi a parte de mim que falou, porque sinceramente não fui eu Normal:
_ Pai, porque você não me chamou pra ficar se o caminho é escuro e perigoso?
_ Eu nunca vou pedir pra você ficar. Respondeu meu pai.

Desci.  Pneus cantaram.
Então a ficha caiu.
A chata da casa era eu.