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Selma Pereira


Triagem Clínica - Relatório de Estágio
Triagem Clínica - Relatório de Estágio

Foi no estágio Supervisionado IV- Triagem
Quando descobri que nenhum professor havia dito que era fácil clinicar.
Também nenhuma pessoa disse que era fácil escutar.

Eu que pensava que era preciso ouvidos perfeitos.
Ou o mero calar-se diante do que fala.

Eu que nunca havia ocupado o posto:
Aquela mulher forte ali sentada na minha frente;
Eu nada sabia da sua vida;
Eu nada conhecia de suas dores;
Mas eu sabia que era um sujeito, o qual eu não poderia susbtantivar.

E me veio medrosamente a verdade:
Escutar não é um hábito fácil,
Isto que ainda não tenho.
Não bastava só os ouvidos...


E o que eu sabia sobre a escuta
Era um mero farfalhar de palavras
Cobrindo-me os tímpanos.


FACULDADES UNIFICADAS DOCTUM
NÚCLEO DE PSICOLOGIA APLICADA.
As Faculdades Unificadas Doctum Campus Teófilo Otoni, está situada à rua Gustavo Leonardo, 1127 no Bairro São Jacinto, destaca-se no que se refere ao ensino de qualidade, caracterizando-se pelo compromisso com a produção de um saber transformador, configurado nos projetos de Educação Continuada voltados para o atendimento e melhoria das necessidades da população dos Vales Jequitinhonha e Mucuri – berços sobre quais recaem o véu do patriarcado e do analfabetismo.

Dessa maneira é que as Faculdades Unificadas Doctum estão diretamente ligadas à sociedade, de fato, ao compromisso social, objetivando o crescimento sócio-cultural e econômico, bem como a valorização dos direitos sociais, atuando, para isso, diretamente nos meios e nas relações de vulnerabilidade; atuação essa concretizada na Casa do Cidadão (Núcleo de Apoio Jurídico), NPA (Núcleo de Psicologia Aplicada) e outros projetos.

NPA – NÚCLEO DE PSICOLOGIA APLICADA
TRIAGEM
Entre vários outros cursos oferecidos, o curso de Psicologia vem conquistando um lugar bastante importante: o seio da sociedade. O NPA, Núcleo de Psicologia Aplicada das Faculdades Doctum, ainda em desenvolvimento, sustenta os estágios Curriculares do 6º, 7º e 8º períodos, respectivamente, Triagem, Psico-diagnóstico e Terapia.

O NPA Doctum está se estruturando como um verdadeiro laboratório, ligando o meio universitário e à sociedade visando a formação dos alunos e serviços de extensão. É em Teófilo Otoni, a maneira de divulgar e apresentar o Psi: o acolhimento dispensado como significado importante para os clientes. Assim se realiza o processo de triagem no NPA: uma triagem de intervenção, já podendo ser chamada de psicoterapeutica.

O processo de triagem nos foi apresentado como o processo de conhecimento de quem procura por atendimento e que busca saber qual é o sofrimento e onde estão suas causas, podendo ser contínuo à psicoterapia, quando o estagiário é o mesmo que atenderá o cliente, ou pode constituir uma etapa à qual se seguirá outra nova, com outro profissional, quando houver encaminhamento. Triagem é um processo psico-diagnóstico que tem início, meio e fim, dura de 4 a 5 sessões, mas cujo fim não será percebido pelo cliente quando for um processo contínuo, mas somente quando houver necessidade de que o paciente seja encaminhado.

Essa necessidade de encaminhamento pode vir do caso, quando há uma indicação para a qual o estagiário não está preparado para atender; ou quando este está sobrecarregado de

atendimentos; ou também quando há solicitação de pacientes para atendimento para outros estágios supervisionados do curso de psicologia.

Neste caso, os pacientes são triados e encaminhados aos supervisores conforme a necessidade e especificações do tipo de caso a que o estágio se destina a atender.

Quanto ao NPA/Doctum - a partir do compartilhar das experiências dos alunos do meu grupo de supervisão - foi notório perceber a adesão da sociedade à Clínica-escola de Psicologia o comprometimento e as implicações entre parênteses para os estagiários.

APRESENTAÇÃO
Produzir novos conhecimentos e nos apropriar de instrumentos e práticas que enriquecem o nosso saber pessoal e profissional se tornou um dos principais norteadores no processo de estágio, uma vez que a utilidade e importância deste dependem unicamente do conjunto de experiências e aprendizado adquiridos. Aqui estão documentadas as contribuições do processo de estágio a partir do desnudar de nossos valores, da destituição e reconstrução de nossos preconceitos e de conhecimentos ora ditos como verdadeiros, sobretudo na maneira de enxergar o outro, de apresentar como o primeiro contato do usuário na Clínica, selecionar sua demanda a partir de um olhar crítico e de uma escuta qualificada – embora ainda em desenvolvimento.

A experiência vivenciada provocou a intensa sensação de impotencialidade na tentativa inútil se achar neutro diante dos relatos dos pacientes: Inteirar de condições as vezes muito peculiares à nossa condição, e ao mesmo tempo tão além de nossos domínios.

Essa sensação de impotencialidade e angústia se esvai quando chega a “maturidade”, quando se percebe que, a triagem, aquele primeiro contato é extremamente necessário para o encaminhamento do paciente a outros meios de tratamento, o início de um atendimento de uma escuta inicial e avaliação acentuados para o processo.

Dessa maneira, que este relatório de estágio apresenta uma Triagem além do mero colher de informações e dados. A triagem conceituada nos grupos de supervisão como a proposta de encaminhamento e intervenção. Apresenta pessoas que vieram espontaneamente, sem indicação de outro profissional, vieram sem saber exatamente o que seria o atendimento, as vezes nem sabiam pra quê vieram; mas que a partir desse primeiro contato, demonstraram não só o interesse em continuar como a necessidade do atendimento.

Apresento então o relatório de Estágio Supervisionado IV – Triagem, cuja experiência elevou conhecimentos e interesses.

A PROPOSTA DE ESTÁGIO E SUA EXECUÇÃO
O Estágio Supervisionado Básico IV – Triagem, propôs inicialmente o atendimento inicial ao usuário, sempre visando o bom acolhimento na busca de facilitar que o usuário fale de suas necessidades e direcione o encaminhamento; a partir desse atendimento, discutir e analisar a demanda nos encontros de supervisão.

Meu processo de estágio, particularmente, foi bastante tumultuado e provocador; encontrando-me perante uma usuária cujos relatos me eram intrinsecamente familiares, me dando conta da dificuldade da observação e da escuta neutra aparentemente, me solidarizando com a usuária que emoldurava e incognitizava seus relatos. Embora estando ciente que, - fazendo minhas as palavras de PERFEITO & MELO - somente estudar teoricamente não nos ensina a ser clínicos, mas isso se aprende no contato com o paciente. E Quinet afirma que a escuta, nosso instrumento de trabalho, orienta as intervenções e os encaminhamentos nas entrevistas de triagem e, nisso, não é diferente da direção do tratamento nas análises, onde é sempre o próprio paciente quem nos dirá qual é a direção de sua cura.

Estavam em minhas mãos caneta e prontuário, material que me propiciaria maior comodidade para relato na supervisão de estágio e para confeccionar o relatório da Triagem, usávamos a segunda sala do NPA, ambiente pequeno de acústica relevante, mas acolhedor. Talvez devido à prática de entrevistas para seleção e recrutamento de pessoal, não consegui escrever nosso diálogo, me é difícil admitir que não estive no controle da situação, talvez por ver-me imersa no relato de seu cotidiano.

Embora eu sentisse a necessidade de falar, foi usado o método da escuta, quando muito, aplicado técnicas de entrevista, tal qual, usar de artimanhas de provocação para estimular o paciente a falar. A paciente veio acompanhada, cuja companhia insistia em permanecer na sala do atendimento, e ao sugerir que a acompanhante aguardasse-nos do lado de fora da sala de atendimento, pude perceber que realmente, nada mais eu tinha de relevante a não ser escutar e, ao falar, fazer uso das dicas dadas nas supervisões.

CONCLUSÃO
TRIAGEM DIFERENCIADA
Considerando alguns artigos lidos antes de realizar tal atendimento, eu havia percebido que a proposta da psicanálise é escutar esse sujeito, como única via que pode levá-lo à implicação e responsabilização por sua queixa/sintoma e procura, não sem eximir de responsabilidade aquele que escuta – para o psicanalista, o único instrumento que orienta o encaminhamento. Para Freud (1913), este tratamento de ensaio (experimento preliminar, que Lacan chamou de entrevista preliminar) é o início de uma análise.

Perceber que não nos é interessante levantar dados e depois abandoná-los, fortificou a intenção de uma Triagem diferenciada, além da coleta de dados. Os relatos de outros estagiários nos espaços de supervisão demonstrou um interesse conjunto de comprometimento com os usuários. Cada caso uma maneira de manejar, cada relato um certo envolvimento com o usuário, e aí pude perceber que não me encontrava sozinha: mesmo estando insegura frente à usuária e por estar (in)felizmente mergulhada afetivamente em seus relatos; estava informada dos instrumentos que me foram disponibilizados: a possibilidade de encaminhamento aos grupos de Psico-diagnóstico e Clínica, o preenchimento dos roteiros, os encontros de supervisão etc.; mesmo que o NPA da Doctum me trouxesse os seguintes questionamentos:

• Até onde posso intervir? Até que ponto estou coerente com a proposta do estágio?
• Quais os efeitos a proposta do estágio e a usuária influenciam em mim, e o que eu influencio na paciente?
• Porque me permitir tamanho envolvimento nos relatos da paciente?
• É possível mesmo a contratransferência? Até onde?

O objetivo do estágio é o atendimento inicial ao paciente no NPA, análise do caso e encaminhamento. Essa experiência me proporcionou satisfação e questionamento a cerca do permanecer neutro. Fez-me sentir de perto a necessidade e o anseio da população em busca da valiosa presença do psicólogo. Era o primeiro atendimento da usuária, que manifestou o desejo de que o atendimento fosse estendido à outros membros da sua família.

Embora o atendimento não tenha sido da maneira “correta”, pautado exclusivamente na escuta e na observação clínica, faz-me bem admitir que o objetivo do estágio foi cumprido. A paciente foi acolhida no NPA, não passamos despercebidas uma pela outra, e a paciente foi encaminhada, após discussão do caso, para continuar o atendimento junto ao grupo de Psico-diagnóstico.
O grupo de estagiários da Triagem, efetuaram uma prática diferenciada. Não só levantaram dados, mas acolheram e fundiram seus conhecimentos aos conhecimentos dos pacientes e da supervisora.
 
Foi-nos disponibilizado o que era necessário para executar o proposto:
Orientação nas supervisões, referencias bibliográficas, discussão de artigos nas supervisões etc,
Meu estágio cumpriu com seu objetivo, consegui perceber na paciente um “sujeito submetido à fala que a constituía”, se manifestando “de forma privilegiada nas formações do inconsciente”.
Eu consegui dizer o necessário para que a usuária pudesse continuar falando e consegui ficar muda o necessário para não recitar minhas próprias queixas.



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Profª Msc. Tatiana Amaral Nunes – CRP: 04/24895
Supervisora de Estágio



 
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Selma da Silva Pereira – CPF 088.510.356-44
Estagiária



REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
FREUD, S. (1913). Sobre o início do tratamento. (Novas recomendações sobre a técnica da psicanálise I). In: FREUD, S. Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. XII. Pp. 139-158.

LACAN, J. (1958). A direção do tratamento e os princípios de seu poder. In: LACAN, J. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. Pp. 591-652.

QUINET, A. (1997). As funções das entrevistas preliminares. In: QUINET, A. As 4 + 1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. Pp. 17-38.

H. C. C. S. PERFEITO e MELO S. A. Evolução dos processos de triagem psicológica em uma clínica-escola Rev. Estudos de Psicologia, PUC-Campinas, v. 21, n. 1, p. 33-42, janeiro/abril 2004