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Selma Pereira


Relato de um Caso Clínico de Transtorno do Panico
Relato de um Caso Clínico de Transtorno do Panico

 

Ivania, uma mulher de 36 anos de idade, recepcionista do Banco do Brasil, é casada com um professor de tênnis desempregado e tem 03 filhos, sendo duas meninas e um menino. Ivania é a segunda filha de cinco irmãos. Descreveu o pai como bastante rígido e perfeccionista e a mãe imensamente dócil, dependente e passiva. Relatou também que se casou aos 16 anos para poder ficar a sós com o noivo e se fazer um pouco independente dos pais.Ivania e a família estão passando por dificuldades financeiras devido à demissão do marido. Esta situação a incomoda bastante.
Recentemente Ivania experimentara uma ligeira tontura. Com o passar do tempo sua tontura piorou e ela começou a sentir o aumento de sua freqüência cardíaca, juntamente com tremores e transpiração excessiva. Sua respiração estava cada vez mais ofegante, sentia a boca seca, dores e pressão no peito. Com o agravamento dessas manifestações, ela deixou de sair de casa. Não quer ir mais ao trabalho, nem supermercados, deixou de fazer compras e não vai à casa de seus pais visitá-los. Quando seu pai teve um infarto, ela correu para o hospital, mas quando se viu na rua teve a sensação de que ia morrer. Voltou e solicitou que o marido a levasse, mas mesmo assim, experimentou uma sensação de pavor. Pavor este que se repetia a cada dia.
Ivania procurou atendimento. Vários especialistas: cardiologistas, neurologistas, gastroenterologistas e otorrinolaringologistas, fez uma série de exames em laboratórios particulares e também públicos, na maioria das vezes eram exames desnecessários, com altos custos pessoais e para o sistema de saúde. Ivania também procurou erradamente se auto-medicar e, por ter nascido no  interior de minas numa família de raízes arraigadas à cultura afro, Ivania também solicitou ajuda do Candomblé e Umbanda, na tentativa de buscar alívio para os sintomas.
Teve “sucesso” apenas nos Serviços de Atenção Primária. Suas queixas iniciais eram: taquicardia, sudorese, tonturas, tremores, perda de controle, sensações de morte iminente, pavor e sufoco. Relatou problemas de sono, dificuldade de concentração, receios de ficar só e comportamentos de evitação, como por exemplo, o trabalho no Banco que após ás 15 horas, a agencia ficava praticamente vazia. Ivania tinha receio que as portas bancárias se travassem e só voltasse a funcionar as 06 da matina na manhã seguinte.
Ivania foi orientada a procurar o CAPS para um atendimento mais concreto.
Eis o relato de Ivania ao Terapeuta do CAPS:  Eu estava sozinha na agencia do Banco do Brasil,  eram 17 horas, e do nada, sem motivo nenhum, comecei a estranhar as sensações que vinham de dentro do meu corpo. Fiquei com muito medo, pois achei que estava tendo um ataque cardíaco. Meu coração acelerado, meus braços dormentes, tontura, náuseas. Não conseguia respirar direito e parecendo que iria desmaiar. Saí correndo. Quando chequei em casa, ainda continuava aquela sensação horrível. Demorou para melhorar, mas, quando melhorei, percebi que eu não era mais a mesma, pois estava com pavor que acontecesse novamente.
O Terapeuta então propôs a Ivania fazerem uma demonstração para que ela compreendesse os sinais de ansiedade que a incomodava. Ivania recusou dizendo que só de pensar na sensação já sentia medo e, já começando a chorar disse que não iria conseguir, que já iria desmaiar. Ele pegou na mão da paciente e a pediu para simular alguém sem fôlego, ao final de 2 minutos Ivania estava sem fôlego e gritando que iria desmaiar. Embora nunca houvesse desmaiado em suas sessões de pânico.  Ele então explicou a Ivania a improbabilidade do desmaio: desmaio é queda de pressão e o ataque de pânico está associado ao aumento da pressão sanguínea.
Ivania então compreendeu que só existia a sensação do desmaio e, a partir dos outros encontros com o terapeuta começou a adquirir repertórios comportamentais necessários para que ela mesma controlasse suas próprias sensações corporais.