Selma Pereira


RELATO DE UM CASO CLÍNICO DE ESQUIZOTIPIA
RELATO DE UM CASO CLÍNICO DE ESQUIZOTIPIA

 

 
Contemplei a Morte no espelho quando fiquei sem nada para fazer:
 pois haviam cortado minha língua e lavado o meu cérebro.
Quando gritei por socorro o eco ironizou meu sofrimento.
Então debrucei sobre o vazio e meditei sob o caos. E esta foi a primeira vez na vida que pensei.
 
 
 


M.A. 37 anos, casado;  trouxe ao nosso conhecimento o caso HO:
 
Sua irmã H.O., 35 anos, bonita, solteira, Analista de Pessoal de uma grande empresa do comercio varejista com horário laboral de 08 às 12 e de 14 às 18 horas. Possuindo então um escritório a parte, ela faz horários atípicos do setor: 16 às 20 horas e 04 às 09 horas, sempre terminando no tradicional cafezinho.
 
Não usa uniforme da empresa onde trabalha. Suas roupas geralmente são brancas sobre uma cinta rosa. Não se relaciona além das atividades profissionais. Nunca teve namorado. Não participa de eventos e/ou comemorações sociais. Não pega carona. Alega que todos falam sobre sua vida, desconfia que alguém ou todos podem prejudica-la de algum modo, sempre com suspeitas infundadas.
 
Segundo relatos do Sr. M.A., nas reuniões de trabalho, onde se faz necessária a descrição das suas atividades laborativas bem como de gastos de seu setor, pede ajuda sempre com uma semana de antecedência. As vezes viaja alegando compromissos profissionais inexistentes bem como, em certas ocasiões, menciona constantemente um certo noivo, desconhecido que virá buscá-la.
 
Sua mesa sempre tem 03 rosas vermelhas destinadas a certa entidade do Candomblé. Embora esteja sempre de mau humor, acredita que, toda a sua pulsão negativa e/ou pensamentos negativos influenciam diretamente nas “grandes tempestades e enchentes”.
 
Nesses últimos dias, começou a reclamar ao perceber seu umbigo muito fundo, da falta de um dedo na mão, da barriga absurdamente grande e de uma perna ser mais curta do que a outra dificultando o uso de sapato de salto alto.
 
Em casa, muda bruscamente de humor, apresentando atitudes inabituais, surpreendendo com discursos incomuns e estranhos à realidade da família. Segundo o relato de seu irmão M.A. apresenta de forma periódica, mudanças repentinas e radicais em seu comportamento: de pessoa terna para ríspida e irritável, ou, de semblante aéreo para ligeiramente extrovertido; sempre sujeita a explosões de raiva e choro sem motivos aparentes. Ainda foi relatado que nesses momentos, ela se basta da companhia de 02 cachorros, Tico e Teco, sempre jurando protegê-los do mal e nunca abandoná-los.
 
 Selma Pereira