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Selma Pereira


Psicodinâmica do Trabalho e Absenteísmo
Psicodinâmica do Trabalho e Absenteísmo


A PSICODINÂMICA DO  TRABALHO

A Psicodinâmica do trabalho é uma abordagem científica inicialmente construída com referenciais da psicopatologia evoluindo para uma construção própria em função dos avanços das pesquisas, transformando-se em uma abordagem autônoma com objeto, princípio, conceitos e métodos particulares.
 
Segundo Jacques e  Codo (2002), nas origens da Psicodinâmica do Trabalho, encontra-se os estudos de Le Guillant, que, durante os anos 50, realizou as primeiras observações sistemáticas que lhe permitiram estabelecer relações entre trabalho e Psicopatologia. Seu trabalho mais citado foi feito em 1956 sobre a atividade de telefonistas em Paris, no qual o autor diagnosticou um distúrbio que ele nomeou como Síndrome Geral de Fadiga Nervosa, caracterizada por um quadro polimórfico que incluía alterações de humor e de caráter, modificações do sono e manifestações somáticas variáveis (angústia, palpitações, sensações de aperto torácico, de "bola no estômago", etc). Mas em questão das repercussões da organização do trabalho sobre o aparelho psíquico o trabalho inovador foi de Christophe Dejours, com a obra intitulada A Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho, traduzido no Brasil em 1987.  Médico do trabalho, psiquiatra e psicanalista, seus estudos revelam um olhar amplo e integrador sobre a organização do trabalho e seus impactos sobre a saúde mental dos trabalhadores; remete-se aos fenômenos do mundo laboral que influenciam, de maneira decisiva, as vivências de prazer e sofrimento dos indivíduos envolvidos com o processo dinâmico do trabalho.
 
A utilização do conceito de Psicodinâmica do Trabalho, em substituição ao de Psicopatologia do Trabalho, deu-se a partir de um privilegiamento do estudo da normalidade, sobre o da patologia. O que importa para a Psicodinâmica do Trabalho é conseguir compreender como os trabalhadores alcançam manter um certo equilíbrio psíquico, mesmo estando submetidos a condições de trabalho desestruturantes (JACQUES E CODO, 2002).
A Psicodinâmica do trabalho passa por 03 fases articuladas e delimitadas por publicações específicas. A primeira se associa a publicação de 1980, traduzida no Brasil em 1987 sob o título de A loucura do trabalho: estudos sobre a psicopatologia do trabalho:
Nessa fase, a psicodinâmica, ainda sob a denominação de psicopatologia do trabalho, é centrada no estudo da origem do sofrimento no confronto do sujeito-trabalhador com a organização do trabalho. (...) A segunda fase, que se deu em meados da década de 90, é o momento de criação, construção de uma abordagem particular e pioneira para estudar o trabalho. (Mendes 2007 p. 34)
A segunda e terceira fases são a publicação de 1993 De la psychopathologie à psychodynamique du travail (traduzida no Brasil em 2004 com o título de Christopher Dejours: da Psicopatologia à Psicodinâmica do Trabalho) e o livro Le facteur humainpublicado em 1995 (O Fator Humano , publicado no Brasil em 1999).  Nessa conjuntura, a psicodinâmica do trabalho evoca as vivências de prazer e sofrimento como discussão inerente a todo contexto de trabalho.
 
O objeto da Psicodinâmica do trabalho é
O estudo das relações dinâmicas entre a organização do trabalho e os processos de subjetivação que se manifestam nas vivencias de prazer e sofrimento, nas estratégias de ações para mediar contradições da organização do trabalho, nas patologias sociais e no sofrimento. Mendes (2007, p. 30)
 
O processo de subjetivação é aqui definido por Mendes (2007) como o procedimento de atribuição de sentido que o trabalhador constrói com relação à sua realidade de trabalho; o que ele expressa pelo medo de pensar, sentir e agir individual ou coletivamente. Dessa maneira, a autora apresenta a Psicodinâmica como uma abordagem de pesquisa e ação sobre o trabalho, uma maneira de analisar, criticar e reconstruir a organização de trabalho que é, portanto, o provocador do sofrimento.
 
Dejours (1987, p.735) define o campo da Psicodinâmica do Trabalho como aquele do sofrimento e do conteúdo, da significação e das formas desse sofrimento e situa sua investigação no campo do infrapatológico ou do pré-patológico. Para ele o sofrimento é um espaço clínico intermediário que marca a evolução de uma luta entre funcionamento psíquico e mecanismo de defesa por um lado e pressões organizacionais desestabilizantes por outro lado, com o objetivo de conjurar a descompensação e conservar, apesar de tudo, um equilíbrio possível, mesmo se ele ocorre ao preço de um sofrimento, com a condição que ele preserve o conformismo aparente do comportamento e satisfaça aos critérios sociais de normalidade.
 
Uma outra característica importante é que a Psicodinâmica do Trabalho visa à coletividade de trabalho e não aos indivíduos isoladamente. Após diagnosticar o sofrimento psíquico em situações de trabalho, ela não busca atos terapêuticos individuais, mas intervenções voltadas para a organização do trabalho à qual os indivíduos estejam submetidos. Ela tem como uma de suas vertentes fundamentais as categorias da Psicanálise. Assim, compreende que frente a uma situação de agressão ao Ego, o indivíduo defende-se, primeiramente, pela produção de fantasmas, que lhe permitem construir uma ligação entre a realidade difícil de suportar, o desejo e a possibilidade de sublimação. Para Dejours (1987, p.739), a situação de trabalho taylorizada está bloqueada entre o Ego e a realidade, pois o conteúdo da tarefa, seu modo operatório e sua cadência são decididos pela direção da empresa. Nessas condições, é possível perceber que o fantasma não serve a nada.
 
A Psicodinâmica do Trabalho tem, também, por referência fundamental, os conceitos ergonômicos de trabalho prescrito e de trabalho real. É no espaço entre esse prescrito e esse real que pode ocorrer ou não a sublimação e a construção da identidade no trabalho. Segundo Daniellou e colaboradores (1983 39), existe sempre, no trabalho taylorizado, uma separação entre trabalho prescrito e real, consequente à separação entre concepção e execução.
 
 
1 - O ABSENTEÍSMO NAS ORGANIZAÇÕES
 
O termo absenteísmo tem sua gênese na palavra “absentismo” que segundo o Dicionário Aurélio é
1-                  Processo de exploração agrícola em que há um gerente ou feitor intermediário entre o cultivador e o proprietário ausente.
2-                  Hábito de não comparecer, de estar ausente
3-                  Absenteísmo
Segundo Quick & Laperlosa, 1982 apud Chiavenato (2000) absenteísmo originou-se da palavra “absentismo” aplicado aos proprietários rurais que abandonavam o campo para viver na cidade e que, no período industrial, esse termo foi aplicado aos trabalhadores que faltavam ao serviço. Sendo assim, considera o absenteísmo como a ausência no trabalho por qualquer que seja o motivo. É definido ainda, segundo Chiavenato (2000, p. 14) como o montante de faltas no trabalho, assim como, atrasos e saídas antecipadas acontecidas durante um determinado período. Dependem de fatores intrínsecos e extrínsecos ao trabalho, que podem ser doenças, acidentes, responsabilidades familiares e problemas com transportes.
 
O absenteísmo segundo Costa (2007, p 39) é um termo abrangente, que pode assumir várias significações, conforme a abordagem que se faz. No campo empresarial, chama-se de absenteísmo a falta ao trabalho por inúmeras razões: doenças, acidentes de trabalho, direitos legais (doação de sangue, participação em júris ou eleições, licença maternidade, entre outros), fatores sociais (doença de familiares), fatores culturais (emendar feriados, feriados religiosos não oficiais) e a falta não justificada.
 
Esse fenômeno será considerado nesta pesquisa como um possível mecanismo defensivo usado pelo trabalhador para se manter em equilíbrio em relação á dicotomia prazer e sofrimento no trabalho. Dessa forma, as faltas devidas a acidentes de trabalho e o absenteísmo amparado por lei não fazem parte diretamente da proposta dessa investigação; que requer o absenteísmo como um escopo que pode existir também como desvios de comportamento e conflitos internos, como não gostar do chefe ou de um colega, por não fazer parte de um determinado grupo no ambiente de trabalho ou qualquer situação que expresse insatisfação do empregado.
Souza (1992, p. 32), expõe que o absenteísmo acontece por excesso de trabalho, desgaste mental e físico ao desempenhar suas funções e dificuldades de relacionamento interpessoal, segundo ele, o absenteísmo é tão complexo que exige um trabalho multiprofissional na instituição, já que, na causa do mesmo, há muito mais fatores do que a simples doença. Esses fatores podem ser desvios de função, insatisfação com o salário, sobrecarga de trabalho, riscos físicos, pressões, falta de motivação entre outros.
 
 
COSTA, F. M. et al (2007). Absenteísmo relacionado à doenças entre membros da equipe de enfermagem de um hospital escola in Revista Brasileira de Enfermagem, jan-fev;62(I) Brasília 2009
 
CHIAVENATO, I. Recursos humanos. São Paulo: Atlas, 2000.
CHIAVENATTO, I.Teoria geral de administração. São Paulo, 1999.
 
SOUZA, S. R. O. S. Fatores que contribuem para o absenteísmo da enfermagem na unidade de doenças infecto  Parasitárias. Dissertação (Mestrado em Saúde do Adulto) Rio de Janeiro: UNI-RIO, Escola de Enfermagem Alfredo Pinto , 1992. 137 p.

MENDES, Ana Magnólia. Novas formas de organização do trabalho, ação dos trabalhadores e patologias sociais. In: MENDES, Ana Magnólia (org.). Psicodinâmica do trabalho: teoria, método e pesquisas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007