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Selma Pereira


A Lã, Feliz Aniversário
A Lã, Feliz Aniversário

 

Precisei de uma boa noite de sono para me refazer do encanto em que fui acometida recentemente. O acontecido está relacionado ao dia 15 de Outubro quando há alguns anos, entremeio as íngremes montanhas e sertões de Minas; regido por Libra, nasceu o rapaz que confundi com um Cavaleiro de Tróia e que nos meus melhores dias de sanidade mental perfeita, eu simplesmente o confundia com um deus grego.
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Fazia mais de um mês que eu não o via. Mas não poderia esquecer o seu aniversário. Jamais. Nunca. Eu não tinha certeza se ele estava em Teófilo Otoni, essa cidade em que a maioria das casas fica dependurada nos morros e os buracos das ruas massacram os rins. Várias vezes, recolhida na minha insignificância compulsória, eu ficava observando esse homem mais parecido com Apolo do que qualquer outro teria direito e o admirando sem nunca cansar meus olhos; então eu não poderia esquecer seu aniversário, muito menos esquecer o quanto ele é bonito.
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Eu lhe mandei um torpedo de feliz aniversário.  Meu maior segredo é que eu não queria só mandar um torpedo. Queria era levá-lo ao altar. Passar a lua-de-mel em Vênus.  Com direito a comida (em sentido literário ou figurado), casa, roupa lavada. O deixaria trabalhar só por hobby. Eu pagaria todas as despesas (com a pensão do meu ex PM).
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Voltando à vida real, o dia 15 de outubro se fez como o mais bonito do ano. No outro dia, porém, eu não havia me esquecido dele, mas meu coração já havia se acalmado ante o dia do aniversário desse deus grego e já estava pensando menos nas coisas boas que costumo imaginar...
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Meu telefone tocou e eu pedi pro meu Agente atender, que prontamente recusou como ele sempre faz. Tocou novamente e eu atendi . Era uma voz maravilhosa, creio que assim deve ser a voz dos Anjos que cantam a Ave Maria na hora do Ângelus. Não reconheci a voz e perguntei quem era. A voz me respondeu que eu havia lhe mandado uma mensagem um dia antes. Meu coração, de motor 2.6, acelerou e fez 400 km/h; pra depois dizer seu nome, ouvir a confirmação bater mais uma vez e desacordar. O tempo parou. Minha mente ficou vazia. Eu achei que meu coração não acordaria mais.
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Quando me tornei consciente de tempo e espaço eu me orientei pelos relatos de quem estava presente. O que fiz e o que falei (se é que falei alguma coisa) não se reteve na minha memória.
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Virei onça! Eu havia preparado uma declaração de amor tão intensa e no exato momento eu fiquei sem fala.
Quando é que terei outra oportunidade?
Eu investi toda a minha grana em agulhas de tricô; agora, só me falta A Lã!