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Selma Pereira


Terminal Rodoviário de Teófilo Otoni - Estágio
Terminal Rodoviário de Teófilo Otoni - Estágio

APRESENTAÇÃO
 
Produzir novos conhecimentos e nos apropriar de instrumentos e práticas que enriquecem o nosso saber pessoal e profissional se tornou um dos principais norteadores no processo de estágio, uma vez que a utilidade e importância deste dependem unicamente do conjunto de experiências e aprendizado adquiridos. Neste projeto foram documentadas as contribuições do processo de estágio a partir do desnudar de nossos valores, da destituição e reconstrução de nossos preconceitos e de conhecimentos ora ditos como verdadeiros, sobretudo na maneira crítica de nos voltarmos à determinadas situações e condições sócio-culturais. Como já o disse Platão, aprender é extremamente doloroso.

A experiência vivenciada nos provocou a intensa sensação de impotencialidade e às vezes de negligência diante das situações a que nos expomos no Terminal Rodoviário de Teófilo Otoni, à parte isso, foi gratificante nos inteirarmos de condições tão peculiares à nossa gente e ao mesmo tempo tão além de nossos conhecimentos. Percebemos que a história do terminal rodoviário, das políticas assistenciais e dos migrantes confunde-se com a nossa história e com a história de nossos pais e avós.

Outra questão importante que nos foi possível visualizar foi o questionamento a respeito de qual caminho a psicologia nos oferece, qual perfil e postura esse caminho exige; estamos sendo realmente preparados para exercermos com qualidade esse tipo de trabalho, ou seremos simplesmente mais um para envergonhar a categoria e subtrair dos sujeitos o que estes têm de mais importante? Culpemos então o Estado, as igrejas, os professores e o mundo e dessa maneira estaremos exonerados de qualquer responsabilidade; mas não é o que queremos nem o que buscamos, esse é o motivo por que consideramos então o estágio válido e apresentamos o presente projeto a partir das palavras de Marx: “tudo é válido desde que edifique e não aliene o homem”.

O Terminal Rodoviário de Teófilo Otoni.
A Estação ferroviária Bahia a Minas, famosa Baiminas, não prolongou por muito tempo após a década de 60. Com o fim da ferrovia em 1966 surgiu a necessidade de transportes que embora precários, satisfizessem a população. A estação ficou por tempo esquecida, até meados da década de 70, quando ficou posse da Maçonaria, tanto o prédio da estação como o hospital Municipal Dr. Raimundo Gobira (a história omite se a maçonaria adquiriu o prédio por compra, troca ou doações. Por questões administrativas, o Hospital foi doado em 1977 á Prefeitura Municipal de Teófilo Otoni).

O terminal rodoviário é propriedade privada pertencente hoje à Maçonaria, possui quatro empresas de ônibus rodoviários fixos, um restaurante e lanchonete, banheiros, serviço de guarda-volumes e carregadores, farmácia e postos de órgãos estatais como Polícia Militar e do Meio Ambiente. Nos arredores contamos com uma empresa de transporte urbano (a Viação Vale do Mucuri), táxis credenciados e vários transportes ilegais.

Foi-nos possível comunicar com:
 Integrante do Sentinela: “Vários são os relatos de abuso sexual de menores no terminal e nas imediações; apesar de ser em grande número, sabemos que ainda não são nem metade do que acontece na nossa região. Necessitamos de um trabalho efetivo junto à sociedade civil para que as pessoas deixem de naturalizar este tipo de monstruosidade”.
 Fiscal da Gontijo: “é complicado trabalhar num local onde se tem bastante passageiro e ainda não possui um ponto de apoio , nossos motoristas e passageiros precisam desse trabalho”.
 Gerente da Rio Doce: “Todas as cidades a que prestamos serviço têm também os táxis e motoristas ilegais que não pagam impostos e ninguém toma providências”.
 Polícia Militar do Meio Ambiente: “Nossa região, infelizmente, não está mais tendo as cidadezinhas pacatas, o tráfico de animais é muito grande por aqui, e na área urbana, vários animais estão sendo mantidos em cativeiro. Apesar das várias políticas de preservação do Meio Ambiente estarem aí na televisão, nas escolas, ao alcance de todos”.
 Polícia Militar: “O trabalho da PM é prevenir ações contrárias à lei dentro e fora do Terminal e serviço de encaminhamento e informações necessárias aos transeuntes. A polícia também precisa da ajuda da sociedade civil na prevenção e denúncias dessas ações”.
 Grupo de Motoristas que transportam na clandestinidade: “o que revolta é nos chamar de criminosos por tá trabalhando, tem gente aqui que não tem outra profissão. (...) impostos? E o.................. empresa grande daquela nunca pagou imposto e ninguém tá preso.
 Presidente do Sindicato dos Comércios: “O transporte ilegal é um bem necessário ao comércio da cidade, já que os outros não suprem a necessidade dos usuários. Anular estes transportes é diminuir a força do comércio local”. (ver anexo I: Autoridades reagem contra o movimento pró-transporte ilegal).

Nenhuma política privada foi detectada no Terminal Rodoviário durante o estágio (ver anexo II: definição de política pública e privada), das políticas públicas identificamos o transporte gratuito a idosos em ônibus interestaduais e o trabalho do Sentinela com os transeuntes.

A Psicologia Social Brasileira e o Psicólogo Social

I – Perspectivas Históricas.
De acordo com Lane (1994), na década de 50 a psicologia social apresentava duas tendências:
 Modelo pragmático norte-americano, que basicamente visava à harmonização grupal e diminuição de conflitos;
 Modelo fenomenológico europeu, de tradição filosófica.
Na América Latina, nos anos setenta, as divergências entre os modelos da psicologia social citados acima ficavam cada vez mais evidentes. Na maioria das vezes, os trabalhos de psicólogos ligados ao campo social comunitário estavam relacionados a militâncias políticas e sociais, e eram realizados junto à
periferia e bairros mais pobres de grandes centros urbanos; nos anos oitenta foi criada a Abrapso, e surgiram os primeiros cursos de pós-graduação na área da Psicologia Social

Novas práticas emergiram como, por exemplo, os trabalhos em favelas, com meninos de rua, com o MST e com pessoas da terceira idade, além de práticas em comunidades, organizações e instituições. A partir dos anos noventa, em uma sociedade ainda mais pobre, foi constatado um aumento significativo da população. Ao mesmo tempo, ocorria o fortalecimento da democracia e a criação de instituições em defesa dos direitos humanos; por exemplo, as que foram criadas com base no ECA, que entrou em vigor em 1990. Decorrentes desse contexto surgiram demandas de novas formas de trabalho do psicólogo voltadas para práticas psicossociais. A atitude em relação aos conhecimentos passa a ser crítica, preocupada em gerar conhecimento adequado à realidade em que se atua.

II – A INSERÇÃO NA ÁREA SOCIAL E O DESVÍNCULO DA CLÍNICA EM TEÓFILO OTONI
Um dos conceitos fundamentais da psicologia social é o de representação social; como profissional da saúde, o psicólogo não pode deixar que as questões sociais fiquem fora do seu campo de atuação; para Lane (1994), duas tendências sempre delinearam o entendimento do ser humano na psicologia: o determinismo biológico (o indivíduo era causa e efeito de si mesmo) e o determinismo social (o indivíduo era produto do meio). A partir dessa afirmação questiona-se qual é o trabalho do Psicólogo social e qual o fazer deste profissional tão necessário à comunidade de Teófilo Otoni.

Desde o início do Governo Lula que a atuação dos profissionais da área social vem crescendo consideravelmente. A política de distribuição de renda deu início a vários projetos sociais e aumentou o campo empregatício nessa área, sobretudo com a implantação do CRAS. Em Teófilo Otoni, contamos com oito “Casas da Família” cada qual com um Profissional do Serviço Social e outro da Psicologia, que estão distribuídas nas regiões da cidade.

O Terminal Rodoviário de Teófilo Otoni é uma demanda que urge uma atuação diferenciada do Psicólogo Social uma vez que vários transeuntes possuem uma visão bastante errônea do psicólogo, nítida na experiência descrita a seguir:

Numa conversa que envolvia todo o grupo perguntaram quem iria viajar e pra onde, quando obtiveram a resposta que não viajaríamos e estávamos no local por um trabalho do curso de psicologia, vários foram os comentários. houve pessoas que quiseram relatar casos particulares para que lhes fossem dito um parecer. As definições de Psicólogo foram várias: médico de doido, médico muito caro, pessoa que descobre quem você é pelo modo como anda, como se veste ou como arrasta os pés.

Com essa experiência logo surge uma reflexão: será que o psicólogo tem subsídios para lidar com as pessoas considerando fundamentalmente a interação delas com a sociedade? E em uma sociedade como a região do vale do Mucuri e Jequitinhonha marcada e caracterizada pela pobreza em que as necessidades básicas como alimentação, saúde e habitação não são supridas, qual a contribuição do psicólogo social na transformação social?

De acordo com Luiz Cláudio , onde existem seres humanos existe a necessidade de se trabalhar as relações sociais; e a base da atuação nessa área está na representatividade social. Foi possível perceber que nossos transeuntes não visualizam um psicólogo nesta área ou simplesmente desconhece esse novo modelo da psicologia voltado às demandas sociais, e, percebem o profissional clínico como um mágico, um adivinho, ou um profissional não acessível. O desvincular da clínica deve ser feito por ambas as partes, os profissionais devem construir sua prática voltada às demandas sociais e os usuários devem conhecer e ter contato com este psicólogo cujo compromisso profissional, antes voltado aos atendimentos individuais, passa a apresentar preocupação com a transformação social.

Entende-se a partir daí que a Psicologia na nossa região continua pouco acessível e até desconhecida, longe da realidade das pessoas, “a Psicologia Social e o fazer do Psicólogo social em Teófilo Otoni e região, ainda estão se construindo a partir de erros e acertos, na tentativa de executarem um trabalho diferenciado e voltando seu olhar às demandas sociais que o rodeia” . A área social é mais do que atender “desassistidos” sociais, é também se inteirar dos desassistidos anônimos, é “transformar o indivíduo em sujeito”... .

O TERMINAL RODOVIÁRIO E USUÁRIOS: APONTANDO O FAZER PROFISSIONAL DA PSICOLOGIA SOCIAL COMUNITÁRIA EM TEÓFILO OTONI
A psicologia Social Comunitária surge na América Latina após a crise da psicologia Social em meados de 1970, se apresentando como uma abordagem diferenciada para a inserção profissional e política do psicólogo, vocacionado ao compromisso com as classes populares, e cuja elaboração teórica-prática é pautada em valores como ética da solidariedade, resgate dos direitos humanos fundamentais e busca da melhoria da qualidade de vida (Campos 1999).

De acordo com Freitas (1999) a Psicologia Social comunitária utiliza-se do enquadre teórico da Psicologia Social, privilegiando o trabalho com grupos, colaborando para a formação da consciência critica e para a construção de uma identidade social e individual orientadas por preceitos eticamente humanos. A definição que se segue é de Góis citado por Campos (1999), e expressa as idéias de um trabalho que poderia ser desenvolvido no terminal rodoviário de Teófilo Otoni:
(...) uma área da Psicologia que estuda o Psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade; estuda o sistema de relações e representações, identidade, níveis de consciência, identificação e pertinência dos indivíduos ao lugar e aos grupos comunitários, através de um esforço interdisciplinar que perpassa o desenvolvimento dos grupos e da comunidade. (...) Seu problema central é a transformação do indivíduo em sujeito (p.11)

Esse é o motivo pelo qual o Terminal Rodoviário deixa de ser apenas um local de embarque e desembarque e, de lugar propício a negócios extremamente oportunistas, para ser visto agora como um laboratório de relações inter-pessoais, de vivências culturais diferenciadas, de conhecimento significativo da realidade de nossa região. As eventuais visitas ao campo de estágio, nos remeteram à observação de Bosi , sobre o conhecimento e intervenção em determinadas comunidades:
Não bastaria trabalhar alguns meses, algumas horas por dia numa linha de montagem para conhecer a condição operária, o observador participante dessa condição por algum tempo, tem a condição de voltar para sua classe, se a situação se tornar mais difícil. É preciso que se forme uma comunidade de destino, para que se alcance a compreensão plena de uma dada condição humana, comunidade esta que por si já exclui as visitas ocasionais ou estágios temporários. Significa então dizer que, o conhecimento e a intervenção se dão continuamente, expressivo, dia após dia. A condição humana, parafraseando Marx é que “o humano nunca me deve ser alheio”. (p.14).


Bosi cita também os psicólogos sociais que, imbuídos de uma concepção ideológica de cultura, falam de necessidades, privação e carência cultural dando a entender que as representações e valores estão agrupados em torno do adquirir cultura.

Foi possível examinar no Terminal rodoviário de Teófilo Otoni, testemunhas da cultura dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri: a pergunta “veio de onde?” casualmente feita a uma senhora, obteve: “de longe, mas dá pra vir”. A partir dessa resposta, aparentemente sem coerência, surge a urgência de não conceber a cultura como necessidade que será satisfeita via instrução do sujeito, mas como algo rico que almeja por quem escute e interprete de acordo com o mundo daquele sujeito, enquanto não nos confundirmos com a sua história de vida, a cultura deste nos será sempre alheia, sempre incoerente. Esta resposta pequenina e objetiva possui uma inflexão na voz advinda do cansaço, a vaga sintaxe vinda da fadiga (seja da vida, seja da viagem), porém nenhum proveito seria tirado da pergunta se não nos tivéssemos atentado ao alongar do queixo, da cabeça e o estreitar dos olhos para o caminho de onde veio. Gestos extremamente expressivos. Os aspectos psicossociais, a busca do conhecimento dos transeuntes desse terminal estão nesse tipo de feedback, descritivo, cheio de significados, acompanhado apenas com o olhar; nos responsabilizando a uma postura além do ser simpático, tomando aqui as palavras de Iamamoto (2006), a uma postura de compreensão daquilo que deveria ser o nosso trabalho comum, a prática da escutatória, a nobreza de entender a cultura alheia e a convivência com outras condições de vida.

Além da diversidade cultural que pode ser presenciada no terminal Rodoviário de Teófilo Otoni, há a diversidade de classes sociais, as situações de pauperização e as denominações que criamos como o pobre, o preguiçoso, o doente, o desempregado, o doido; que para Sposati (2002) são os dessassistidos em seus direitos:
Quando me refiro á caracterização da situação de pobreza procuro resgatar as cadeias que articulam necessidade com demandas sociais, o que importa não só como definição de prioridades do estabelecimento das políticas como para avaliação dos recursos existentes. (p.55)
A autora ainda acrescenta que, se é certo falar da pobreza tomando indicadores como renda e emprego, condições de saúde e educação, também é certo que esses dados pouco elucidam as conseqüências sociais da pobreza para diferentes grupos sociais. Embora as necessidades sociais sejam as mesmas, considerando que temos transeuntes da zona urbana e rural, as demandas urbanas não são as mesmas demandas sócio-políticas da pobreza rural e, obviamente os sujeitos serão afetados diferentemente.

Adiciona-se então à busca de identificar, conhecer e encaminhar o transeunte, a necessidade de saber definir com clareza as situações de risco e prioridades na dissecação dos usuários ou clientela dos programas assistências. Consideramos pois que, o contexto social, histórico, econômico e cultural não se desvincula do sujeito, e para conhecê-lo é preciso que se esteja inteirado do seu ambiente; o que contribui diretamente para que conheçamos a conjuntura política do Brasil e o tripé da seguridade social brasileira: saúde, educação e assistência social; cujos efeitos (da presença/ausência) estão refletidos nitidamente na nossa região ainda desassistida e marcada pelo patriarcado.

MIGRANTES E SOCIEDADE: UM DESAFIO À RESISTÊNCIA E À PEREGRINAÇÃO
“E mais caminhava. Topar um vivente é que era grande raridade. Um homenzinho distante, roçando, lembrando, ou uma mulherzinha fiando á estriga na roça, ou tecendo em seu tear de pau, na porta de uma choça, de buriti toda... outra mulher fumando o pito de barro, mas ela enrolou a cara no xale, não se ajuizaram os olhos dela. Mulher é gente tão infeliz.”
Guimarães Rosa – Grande Sertão Veredas.

Os vales do Jequitinhonha e Mucuri possuem também o problema de saída dos lavradores do campo para a cidade, fenômeno mais lamentável e dantesco que o então chamado êxodo rural: a migração temporária ou sazonal, dita como aquela que ocorre em grande número e em determinada época do ano e vem ocorrendo desde o final da década de 70. Muitos são os transeuntes no Terminal rodoviário de Teófilo Otoni, que vão em busca de trabalho em outros estados, trabalhos que às vezes, parafraseando Sposati, se “traduzem em escravidão branca”.

A CNBB, órgão bastante influente da Igreja católica atua de forma efetiva junto aos migrantes a partir de suas origens (maior foco nas dioceses de Araçuaí-MG e Rui Barbosa-BA) e do destino destes. Em 1990 a CNBB promoveu em São Paulo, em parceria com a CPT e o CEM-SP, o I Encontro Nacional Sobre Trabalho Sazonal, estruturando a partir daí o SPM.
A Diocese de Araçuaí considerando o processo migratório, a pauperização e o sistema de patriarcado que ainda se sustenta nos referidos vales, dividiu o SPM em três níveis:
 Na origem: acompanhando as famílias e as comunidades de onde saem os migrantes a fim de orientar e incentivar os projetos alternativos com vistas à fixação na terra.
 No destino: com freqüentes visitas aos migrantes, palestras, assessoria jurídica ás organizações dos trabalhadores por melhores condições de vida e de trabalho, e na participação destes nas lutas reivindicatórias locais.
 Intercâmbio entre origem e destino efetivado por meio de visitas recíprocas entre os agentes pastorais de ambos os pólos.

Em 1996, o então bispo de Araçuaí, reverendo Crescêncio Rinaldini, italiano e popularmente Dom Enzo, incentivou a criação de grupos pastorais que pudessem acolher e encaminhar os migrantes em outras dioceses e outras cidades; em Teófilo Otoni, a coordenação do grupo ficou com os padres italianos, que sempre se dedicaram a trabalhos sócio-educativos através da APJ, estes conseguiram pessoas de outras congregações religiosas para que pudessem acolher os migrantes.

Entramos em contato com a Mitra Diocesana de Araçuaí e ouvimos Dom Enzo, hoje Bispo Emérito daquela Diocese:
“A migração é devido à escassez de possibilidades, e muitos vendem até o pequeno pedaço de terra que lhes pertence; impedir essa expropriação é também um dos objetivos do SPM. Lamento que atualmente, a Pastoral do Migrante em Teófilo Otoni esteja esquecida, e com ela os processos migratórios nas cidades de Ladainha, Poté, Topázio e região de Machacalis que, fazem parte da Diocese de Teófilo Otoni e possuem migrantes entre 18 e 45 anos que ficam por 8 ou 10 meses nas agroindústrias canavieiras de são Paulo e nas fazendas no Mato Grosso. (...) o SPM atua também junto às esposas e filhos que com o marido ausente, tornam-se provedoras da casa, após o trabalho na roça, fiam o algodão de Minas Novas e fazem manufaturas, potes, panelas e estátuas de barro, nós temos artistas; uma vez que os maridos nem sempre conseguem mandar um dinheirinho. (...) é muita alegria para um pobre Bispo aposentado que projetos desse cunho estejam sendo discutidos nas escolas superiores, creio que estamos progredindo á medida que estamos abertos à discussão das causas dos menos favorecidos (...) “.

Hoje em Teófilo Otoni ainda há o desejo de se formar equipes que possam estar comprometidas com o SPM, localizamos várias pessoas que, individualmente prestam algum serviço. Cumpre salientar que não faltam somente as equipes, considerando que o abrigo da prefeitura municipal, CEVIDA, também precise de reestruturação e a Diocese de Teófilo Otoni não mais recebe e apóia projetos de trabalhos pastorais tanto quanto antes.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
 Criação de um grupo fixo de estudantes e profissionais que intervenham de maneira proveitosa no terminal rodoviário, no encaminhamento e “assistência” aos transeuntes. Considerando intervenção e assistência como o processo de atuar e desenvolver determinadas ações a partir do conhecimento contínuo da situação socioeconômica e cultural dos transeuntes.

 Resgatar a história do terminal rodoviário através de pesquisa de campo com pessoas (mais idosas) que presenciaram os momentos históricos de criação do terminal.

 Buscar políticas que possibilitem o credenciamento dos motoristas ilegais. Promover ações como palestras e/ou panfletagem, em parceria com o Sindicomércio, para incentivá-los ao cooperado.

 Buscar informativos que demonstrem preocupação com os problemas sociais e econômicos da zona rural de nossa região e a atenção dada a eles via projetos sociais. Assim como estar inteirados dos projetos que visem melhoria à situação das famílias dos migrantes cortadores de cana. Trabalhar métodos contraceptivos e nutricionais na zona rural através de palestras e mini-cursos em parceria com cursos de Enfermagem e Nutrição.

 Criar meios de recreação com os transeuntes durante a espera destes no terminal, como por exemplo confecção rápida de materiais como biscuit, pintura em cerâmica, leituras dinâmicas de poesias, literatura brasileira, cordel, etc. para as crianças brincadeiras educativas, tatuagem purpurinada e leitura dinâmica de contos de fadas e fábulas educativas.

 Confeccionar projeto de atuação diferenciada dos Psicólogos Sociais e da Secretaria de Ação Social em políticas públicas que beneficiem diretamente os transeuntes do Terminal Rodoviário de Teófilo Otoni.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Estágio Supervisionado Básico II foi extremamente proveitoso no sentido de estarmos lidando com situações além da nossa realidade. Nos expomos, nos deparamos com situações criticas, estudamos e ficamos a par da teoria e dos acontecimentos que circundam o terminal rodoviário de Teófilo Otoni.

Grande satisfação nos trouxe a visita das irmãs Franciscanas Scalabrianas da Diocese de Araçuaí, as pioneiras no trabalho em rodoviárias, e, gratificante foi o reconhecer de nosso trabalho por parte da administração do Terminal no visualizar de nossas propostas. Foi possível perceber que não foi em vão, nossa viagem a outra diocese em busca da história dos migrantes. E não foi jogado pro alto o tempo investido no campo de estágio.

O mérito é de todos, da parceria das estagiárias que compartilharam angústias, medos e instabilidades, do supervisor de estágio L.D. e da Coordenadora do Curso de Psicologia das Faculdades Doctum - Campus Teófilo Otoni, C. L. que, dentro de suas (poucas) possibilidades se mostraram solícitos com as estagiárias.

De maneira nenhuma vamos dizer que foi fácil, mas o acréscimo em nosso aprendizado foi fantástico. É como afirmou Fernando Sabino: Tudo no fim dá certo... Se não deu certo é que ainda não chegou o fim...

Em Nota: O MOVIMENTO PRÓ-TRANSPORTE ILEGAL

É um movimento que não visa nenhuma melhoria aos passageiros nem aos motoristas ilegais, visa apenas conseguir com que atuem sem problemas maiores com a Lei, sem que impeça que eles continuem a circular na clandestinidade.
A notícia transmite a noção de que esses trabalhadores são isentos de direitos, e em nenhum momento expressa projetos que visem regularizar a situação dos motoristas garantindo o direito a que lhes convém assistir. Falta parceria, encaminhamento e o trabalho de reeducação dos mesmos.

BIBLIOGRAFIA

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CAMPOS. R.H.F. (Org) Introdução À Psicologia Comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis, Vozes: 1999
(Disponível em www.unicemp.br/index.asp?strcurso=psico acessado em 07/11/2009)

FREITAS. M.F.Q. Psicologia na Comunidade, psicologia de Comunidade e Psicologia Comunitária: pratica da psicologia nas comunidades nas décadas de 60 a 90, no Brasil. In CAMPOS. R.H.F. (Org) Introdução À Psicologia Comunitária: da solidariedade à autonomia. Petrópolis, Vozes: 1999. (Disponível em www.unicemp.br/index.asp?strcurso=psico acessado em 07/11/2009)

FREUD. Sigmund. Totem e Tabu – Obras Psicológicas Completas de S.Freud, ed. Standard Brasileira. V. XIII – Rio de janeiro: Imago.1996

IAMAMOTO. Marilda Villela, & CARVALHO. Relações Sociais e Serviço Social: Esboço de uma interpretação teórico-metodológica. São Paulo: Cortez. 1998

LANE, S. T. M.. Identidade. In: SÍLVIA T. M. LANE; WANDERLEY CODO (Orgs.). Psicologia social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1994

SPOSATI, Aldaíza. (Org). Os direitos (dos desassistidos) sociais. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2002