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Selma Pereira


Outra Vez! A Lã
Outra Vez! A Lã

 

Que seria de mim se eu não tivesse amigos...nem que seja pra fazer isso!
Eu tenho tendência a acreditar em Vidas Passadas por causa de 03 espectros que rondam minha vida. Colocarei em ordem alfabética porque não existe hierarquia em meu coração:
Cassiano        Grasiela     Ivania

Cassiano e Grasiela porque conversam coisas interessantes e deixam-me ser eu mesma quando estou com eles. Ivania porque passei uma vida inteira junto com ela. Não permite que eu fale nada sério da minha vida, não permite que eu conte minhas mágoas, repudia meus relacionamentos amorosos e conta meus (maiores) segredos em público: dentro de um ônibus lotado, na fila da cantina da faculdade etc.
 
Os três possuem uma coisa em comum: morrem de inveja de fato inusitado que me aconteceu.
***
Me considero bastante previsível, saio de casa no mesmo horário, viajo 07 km até o trabalho, vejo as mesmas pessoas, faço as mesmas coisas e destilo o mesmo veneno todos os dias. Um dia ao sair pra trabalhar, notei que o Universo estava muito desperto, mais desperto e mais saliente que o normal. O Sol havia nascido sem preguiça, o Vento estava brincalhão e o Clima pedia uma Itaipava. Era um dia diferente.
Eu estava apaixonada e estava vivendo um grande amor platônico.
***
Era quase hora do almoço quando resolvi externalizar meus melhores sentimentos. Ou externalizar a minha emoção. Olhei para aquele Céu azul e sem núvens, o sol tomava coca-cola e, o contraste do ceu azul com o morro gigante ao pé da minha janela formava um angulo desajeitado e supliciado. Me tornei romântica. E mandei um torpedo...
 
***
Esse torpedo deu o que falar. Lembro-me que um dia antes eu havia perdido o controle ao ouvir uma voz excitante e profanamente angelical ao telefone, meu coração, de tão ordinário que é, vacilou, bateu descontrolado, dando depois uma única batida e desfalecendo. O tempo simplemente parou. 
 
Mas nesse dia, A Lã, cuja beleza envergonha Apolo me ligou novamente. Eu não sei exatamente que efeito esse homem causa em mim. Só sei que não me lembro de nada após falar com ele. Será que ele tem um aparelhinho daqueles que os Homens de Preto (Mib) apertam pra que as pessoas não se lembrem de nada? Se tiver, tenho certeza que é bem mais potente.
 
***
Foi ao receber essa ligação que vi pra quê servem os amigos!
Cassiano veio segurar minha mão para que eu parasse de tremer. Até parecia que eu tinha Delirius tremers (aquela probleminha de abstinencia alcóolica). Ele segurava minha mão e me pedia calma gritava para que trouxessem um copo de água. Não sei pra quê, mas eu ouvi ele pedindo. Será que era pra lavar alguma coisa, ou jogar em mim? 
 
Grasiela, por sua vez, pegou um pedaço de papel e ficou me abanando até que eu me restabelecesse, acho que ela pensou que o homem do outro lado da linha estava me maltratando. Ela ficou pedindo o telefone: "Deixa eu falar com ele".  Acho que ela queria me defender. Mas não entrego o telefone mesmo! Se é pra morrer, quero morrer assim!
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Quando me acalmei, pensei quão certo foi o autor em sua colocação: "Eu suportaria, não sem dor, se morresse todos os meu amores; mas morreria se me faltasse todos os meus amigos". Do contrário, quem é que seguraria minha mão quando o Amor me fizesse perder o controle? Quem é que me abanaria quando o calor de 60 °C me atingisse ao ouvir a voz do belo Cavaleiro de Tróia? E quem é que ficaria ouvindo-me contar aventuras platônicas e a cada pausa em meus contos, sempre que houvesse bastante gente por perto, perguntasse alto e bom som: e aí você molhou a calcinha? Mesmo que a conversa nada tem a ver com esse tipo de coisa... Mas me fazer passar por isso e atrasar minha vida é a especialidade deles.
 
Invejosos!
 
***
 
As agulhas de tricô eu tenho...